quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Amo-te



Somos brindados pelo sol que aquece os nossos rostos enternecidos, no final de tarde que nos espera na praia erma, no anúncio do Outono que se aproxima mansamente na quietude dos meus dias.
É chegada a hora de experimentar o abandono do peso das desilusões para que o vento se encarregue de as apartar para bem longe.
É chegada a hora de colher o que já amadureceu e deixar vingar as emoções que afloram a cada dia e de sorver o instante que traz a mais pura semente germinável, que me transforma ao sentir o seu toque suave.
É sob essas emoções que escutamos o lamurio das vagas que se agitam contra as rochas num capricho imparável, que nos apazigua a alma e interrompe o nosso silêncio. O seu rumor traz-me a tua respiração que me segreda ao ouvido, sem as interferências da mente, sem os pensamentos que me anulam.
A paz e a ternura que se espelham no nosso olhar, dizem sem palavras aquilo que sentimos.
Sinto o meu coração a dar tréguas quando estou envolta nos teus braços, ainda que as lágrimas brotem dos meus olhos. Já não são, porém, lágrimas de dor; são lágrimas que limpam a minha essência, que nascem pela emoção dos meus sentimentos.
Sentimentos… palavras para quê, quando sabemos o que sentimos, quando o silêncio do nosso olhar se incumbe de os expressar?
No meio de tantos sentimentos confusos que me assolaram, este acalma-me e sossega-me.
Quantas vezes pensei que amava, quando afinal o que me consumia era o fogo da paixão e a ânsia de ser amada… Sentia-me viva enquanto ardia… Morria lentamente quando se extinguia. Restava a palidez esculpida no meu rosto por mais uma desilusão que tomava conta de mim.
Gritava por auxílio a minha alma. Já quase não tinha forças para continuar a clamar e abandonei-me, deixando-me vencer pela dor lancinante que me tomava e pela desilusão que habitava no meu ser.
Quando apenas ecoava o apelo mudo na minha alma, surgiste docilmente com um sorriso nos lábios, um brilho nos olhos, com a promessa de me dar a paz que procurava, até quase me esgotar para seguir no seu encalço.
Cumpriste com a tua promessa, enquanto o meu sentimento por ti se multiplicava a cada dia que passava, a cada recordação do toque suave de uma rosa a percorrer a minha pele, a cada gosto dos beijos profundos, a cada perfume inalado, a cada carícia lembrada com ternura…
Vi os dias passarem e crescia em mim uma ânsia. Uma ânsia de ficar ao teu lado num local só nosso, onde os olhos mundanos não nos abrangessem, onde só a Natureza nos rodeasse e nos brindasse com os seus cheiros, os seus sons, a sua beleza inigualável. Desse local eu não queria partir…
É nesse local que me proteges e onde finalmente me sinto amada, onde nos olhamos e ficamos por vezes em silêncio, transparecendo nos nossos olhos aquilo que nos vai na alma.
No meio de tantas palavras, ainda tanto resta para dizer…
O sufoco que me aperta a garganta aumenta à medida que os ponteiros do relógio avançam apressadamente perseguindo a noite que prenuncia a despedida.
É sob o olhar terno das estrelas que se liberta dos meus lábios a palavra que traduz aquilo que sinto por ti, que cresce a cada momento que passamos ou mesmo quando estamos ausentes. Uma só palavra basta para expressar um sentimento tão nobre.
São por vezes as palavras mais simples que negamos pronunciar, pelo temor da derrota que nos invade o pensamento.
Desprendem-se dos nossos olhos lágrimas que banham os nossos rostos, misturando-se num abraço demorado que vem sustentar o que as nossas bocas proferiram.
Fica no ar o alívio por termos soltado o que julgávamos bastar aos nossos olhos dizer, sempre que os nossos olhares meigamente se cruzavam.
Melicamente escuto agora na minha lembrança, no aconchego do ninho que já nos acolheu, a palavra que faz transparecer o mais nobre dos sentimentos: AMO-TE…

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Saudade e Paz



É noite.
Cobre-me um manto de estrelas na praia deserta que já nos acolheu, enquanto se passeiam por mim os pensamentos nostálgicos que te trazem à minha lembrança. Adivinha-se a minha partida do local onde selámos o nosso encontro.Tudo me faz recordar de ti… a Lua que reflecte o seu encanto de prata sobre o mar, que sussurra os segredos que nem todos sabem entender, que me lembram o teu olhar que fita o meu com ternura, sem palavras pronunciarmos, mas dizendo tudo o que nos vai na alma; o brilho das estrelas que me lembram os teus beijos cheios de carinho; a areia fina e fria que me acolhe agora sozinha, sem a tua presença. Nela me aconchego e imagino os teus braços que me prendem no teu calor. Fecho os olhos e inalo o odor que traz até mim o teu cheiro, ouço o murmúrio das vagas que me traz a tua respiração…
Vives em mim.
Qualquer pensamento me leva até ti e sinto uma paz invadir o meu peito.
Transpiro música com o toque suave dos teus dedos sobre a minha pele.
Habitas em cada pedaço da minha existência.
Pertences-me sem me pertenceres…
Fazes parte da nova mulher que nasceu em mim.Sou flor que brota viçosa no jardim que começaste a cuidar. Alimentas-me a cada dia com o teu carinho, renovo-me a cada momento com as recordações que persistem no meu pensamento.
É com essas recordações que regresso ao meu leito que me espera uma vez mais vazio, caminhando placidamente entre o ruído e a pressa, lembrando-me da paz que reside no silêncio emanado dos nossos olhares.
Já não me sinto a vaguear solitária no meio da multidão, pois sei que mesmo ausente permaneces no meu coração, sem precisar de me renunciar para poder amar.As lágrimas que por vezes teimam em rolar pelo meu rosto, apenas me lembram as emoções e os sentimentos que residem em mim e que se espelham no nosso terno olhar.
Não sinto mais tristeza ao ouvir a chuva a cair. Escuto agora a sua suave melodia que canta na vidraça da minha janela que quer abrir-se de novo, para que eu possa sentir o vento soprar de mansinho e percorrer todo o meu corpo, renovando-me a cada passagem da brisa morna.
Vivo cada momento inspirando-me em cada som, em cada odor, em cada toque, em cada olhar…
Sinto-te em cada música que escuto, em cada palavra que redijo, em cada cor eu vejo, em cada pétala que roça a minha pele…
Sigo com estas sensações no encalço da paz que me trouxeste e com a qual me envolvo agora nos lençóis que me esperam nas noites calmas.
Adormeço com a saudade no meu peito e a paz na minha alma…

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cinzas



Foste rascunho de uma história que vivi num sonho que só a mim pertenceu. O fogo que um dia lhe lançaste queimou-o sem dó e dele apenas restam as cinzas que lentamente o vento vai afastando de mim com a sua aragem suave.
Perdi a razão…
Vesti a pele de menina que já não sou e deixei-me levar por uma quimera onde tu não querias estar.
Promessas não fizeste, mas pairou a esperança… a esperança que um dia te reencontrasses e me encontrasses no teu reencontro.
Vivia numa euforia aguardando escutar a tua voz… Sorria… cantava assim que a ouvia…
Depois passei a viver os meus dias na nostalgia, relembrando os breves momentos que passámos, até me deixares de falar…
A dor foi atroz!…
Como poderias sair assim da minha vida sem sequer dizer adeus? Apenas soou um vago até breve.
Chorei desesperadamente ao acordar do meu sonho, ao ver que afinal não me querias ao teu lado, ao ver que afinal a força da paixão só a mim cabia.
Abandonei-me pelo cansaço. Não podia esperar mais por ti. Soubeste que a minha alma gritava e nunca me secaste as lágrimas que por ti brotavam do meu peito ferido.
Tantas vezes tentei em vão encontrar-te novamente, mas apenas te via nas minhas memórias, no álbum de recordações que agora guardo fechado para não mais me magoar.
Apossou-se de mim um negrume que só a melancolia me trazia, nos dias passados sem ti, onde nem o pôr-do-sol tinha magia, onde só a escuridão e o frio da noite tomavam conta de mim.
Um dia veio o alvorecer e, com ele, a paz e a serenidade regressaram, reinando outra vez no meu coração. Os seus raios espalharam por mim sentimentos de carinho e ternura que estavam adormecidos, passeiam-se por mim com o seu calor e fazem brilhar com novo alento o meu gélido e vago olhar que assim ficou com a desilusão vivida nos meus dias mal amados.
Agora já não escuto com nostalgia as músicas que marcaram os nossos momentos. Essas melodias já não te pertencem. De ti apenas resta a lembrança, mas já não choro.
Ancoro agora num porto que me acolhe, que me dá forças para retomar a minha viagem. As águas começam a aquietar-se. Vislumbro um farol que me guia até nos dias de nevoeiro, mesmo quando as estrelas teimam em não cintilar.
Já despi o vestido de frágil menina. Sou mulher. Fortalecida.
Já não deixo que o frio me gele. Antes procuro o conforto nas palavras ou no silêncio do meigo olhar que me recebeu e aconchegou.
Fecho as janelas do passado e abro a porta do presente, caminhando com brandura ao longo da nova ala que se abriu, plena e cheia de luz.
É lá que me refugio. É lá que começo a escrever uma outra história. É lá que escuto de outra forma as melodias que não mais são tuas e o vento que vai passando de mansinho e purificando a minha alma. É lá que sinto o toque suave do veludo das flores. É lá que vejo as cores que preenchem o meu olhar. É lá que sinto os odores que percorrem os meus sentidos. É lá que me sinto agora feliz, pois sei que as cinzas do meu rascunho permanecem do lado de fora da janela que me obrigaste a fechar e que o vento levanta levemente, apartando-as de mim…

domingo, 31 de agosto de 2008

Um dia...





Um dia…
Um dia sonhei…
Um dia vivi um pesadelo…
Um dia acordei… desiludi-me…senti-me livre…
Um dia voltei a sentir-me aprisionada numa quimera que só existia dentro de mim. Pura ilusão!
Despertei e chorei lágrimas de dor que saíam do meu coração sem que encontrassem um local para repousar a minha alma. Soltavam-se noite e dia sem descanso, encurralavam-me na minha solidão, brotavam dos meus olhos, escorriam pelo meu rosto, que nem os raios de sol confortavam com o seu eterno calor.
Um dia tu vieste ao meu encontro. Secaste-me as lágrimas. Ancorei no teu olhar, prendi-me no teu abraço, naveguei ao sabor dos teus beijos de ternura que há muito esperava receber.
Um dia escutei sem dor as músicas que me ensinaste a ouvir…
Um dia aprendi que muito se pode aprender escutando o nosso silêncio.
Um dia serenei aconchegada pala lua e pelas estrelas que nos embalaram na praia deserta.
Um dia ouvi o murmúrio do mar na noite calma.
Um dia vi o nevoeiro dissipar-se, dando lugar ao pôr-do-sol radiante beijando o mar imenso, tal como a magia dos teus ternos beijos que chegaram de mansinho para apaziguar o meu pranto e secar as minhas lágrimas.
Um dia vivi… um dia fizeste-me sonhar…
Vivi um sonho que julgava só os sonhos poderem dar e desejei não acordar.
Um dia voltaste a fazer-me sorrir e chorar também. Mas agora não é um choro de lamento. É um libertar de emoções que nunca antes senti, ao viver este sonho que nunca antes sonhei, pois cuidei não existir…
Revivo cada instante, espelha-se a paz no meu olhar, a esperança no meu rosto, a calma no meu corpo, a quietude e o sossego no meu coração.
Respiro cada odor deixado em cada recanto do meu pensamento.
Ouço as baladas que percorrem todo o meu ser, sem me levar ao cansaço.
Sinto na pele o veludo das rosas que me devolveram o sorriso.
Toco as pétalas frescas que me lembram o teu toque suave e guardo-as como um tesouro.
Olho para as suas cores que me recordam o teu meigo olhar, o teu sorriso encantador…
Adormeço aconchegada pela luz ténue das velas que nos guiaram no sonho que um dia me fizeste viver, do qual eu não queria acordar.
Adormeço na esperança de um dia surgir um outro dia, um outro sonho, onde não precise de fechar os olhos para poder sentir os perfumes que me rodeiam, para poder escutar os sons que pairam em cada lugar onde vou e que me acalmam, para poder pintar a minha vida com as cores que me ofereceste, para poder sentir o toque aveludado do carinho que só tu me sabes dar, para poder escutar de novo o nosso coração bater no mesmo compasso.
Adormeço com o sorriso com que um dia me deixaste, através dos momentos mágicos que construíste e que me devolveu a felicidade que julgava ter perdido um dia.
Mitigaste-me o sofrimento que um dia me assolou por um sonho que só eu tive, que não consegui viver e que se tornou melancólico.
Resido agora no dia inolvidável com que me presenteaste e que ocupa o decorrer dos meus dias e me inspira a escrever estas palavras que se soltam dos pensamentos esculpidos na minha memória e que fluem acompanhados das baladas que escutámos juntos, agora que estás distante do meu olhar, porém cada vez mais junto do meu peito.
Revivo a cada instante esse dia que nenhum dia irá arrancar da minha lembrança.
Um dia que será para sempre um dia…

domingo, 24 de agosto de 2008

Acalmar






Sinto-me envolvida pelo carinho de mil estrelas saídas dos teus lábios.
A Lua afaga-nos com o seu encanto sereno.Escutamos o mar que murmura sons sussurrantes, como suspiros num vai-vém imparável que me embala na areia fina.A noite é mágica.
Nada dizemos, apenas ouvimos.O nosso silêncio é selado com o que há muito se anunciava através da ternura emanada dos nossos cúmplices olhares.
Inalamos o sossego que paira no ar e que mistura com o odor da maresia.Espelha-se a paz no nosso olhar.
O nosso silêncio continua…
Passeiam-se lágrimas no meu rosto.Emoção? Medo? É uma sensação que não sei descrever.
Aconchego-me nos teus braços numa tentativa de não me escapar no frio da noite. E fico…
Secas-me as lágrimas com a promessa da tua amizade eterna, pois mais não me poderás oferecer.
Sou agora menina assustada no teu colo, recebendo com ternura o teu carinho incondicional, quando te dizes incapaz de me dar o Sol ou a Lua. Aprisiono-o num local só meu, de onde não quero partir, pois dele preciso como se de ar se tratasse para poder viver…
Vivo este momento de forma plena, mas não o suficiente como se não existisse amanhã, visto que a razão é mais forte para o permitir.
Ao teu lado os meus temores dissipam-se, tal como névoa nas manhãs que adivinham um dia de calor revigorante.
Contigo sinto os raios de Sol acariciarem-me o rosto e a enternecerem o nosso olhar.
Uma brisa suave vagueia pelo meu corpo e faz-me arrepiar de mansinho, trazendo-me apenas o sorriso da quietude da alma.
Todos estes sentimentos me percorrem…
O medo de voltar a sofrer mais uma desilusão, que por vezes me assalta, esconde-se por instantes no meu pensamento, enquanto estás por perto. Esqueço o que me atemoriza.
Estou em paz… és o bálsamo que me serena a alma e acalma o espírito. Não quero sair deste estado.
Quero continuar a sentir-me envolvida pelo teu carinho e escutar o nosso silêncio, aconchegados pelo luar.
É tarde… temos que voltar. Chama-nos a razão…
Despede-se de nós a Lua e as estrelas e eu volto para o meu leito que me espera vazio para que eu possa descansar o meu corpo e, agora sim, acalmar a minha alma…Deixo-me embalar pelo meu sono tranquilo, sou vencida e adormeço…Consigo acalmar…

sábado, 16 de agosto de 2008

Amizade



Tornaste-te num ser inesquecível…
Serenas-me a alma, acalmas-me o espírito.Secas as minhas lágrimas aconchegando-me no teu olhar. Sossegas o meu pranto, mesmo quando escuto o teu silêncio.
Dizes que é difícil encontrar palavras capazes de descrever a nossa amizade…
Tento rebuscá-las na quietude das noites em que o sono tarda a chegar, quando as desilusões que habitam o meu pensamento me impedem de adormecer.
Chegaste quando a minha alma gritava por socorro…
Chegaste à minha vida quando vi o meu coração destroçado por um desencontro de amor, por uma mágoa que me assaltou e invadiu o meu ser, dilacerando o meu peito.
Vejo-te como um anjo mandado pelo céu.
Vieste e ofereceste-me a paz, deste-me o carinho, o calor do teu abraço, a ternura de um beijo… um sentimento incondicional, que tudo permite dar e nada exige em troca, a não ser a amizade pura e singela que te posso também dar…
Somos agora haste fina que cresce num prado verdejante. Ventos de mudança me agitam suavemente. Sobreviveremos às intempéries que assolarem nos Invernos das nossas vidas. Cresceremos juntos e fortalecer-nos-emos no decorrer das Primaveras, à medida que o tempo passar por nós… jamais diremos adeus, pois este sentimento não o permite. Permaneceremos para sempre no coração, por mais que a distância nos separe.
Dizes que não poderás dar-me a lua, mas poderás oferecer-me a paz que dela emana, sempre que sentir o desassossego na minha alma…
Dizes que não poderás dar-me o sol, mas poderás dar-me a luz que se irá reflectir nos meus olhos, sempre que estes quiserem chorar e o calor do teu abraço que me irá fortalecer, sempre que me sentir desfalecer…
Ensinaste-me a escutar os sons que tornam os momentos especiais e que ficam gravados na nossa memória… aqueles que outrora me traziam a nostalgia e que faziam brotar lágrimas de amargura, trazem-me agora a calmaria do pôr-do-sol na praia deserta onde só se escutam os pensamentos, interrompidos pelo murmurar das ondas do mar imenso.
A nossa vida é um mar… um mar repleto de ondas, cada uma diferente da outra… por vezes imprevisível, porém sempre mágico, vivo, que nos traz aprendizagem. Ondas que vêm de mansinho; outras que revolvem todo o nosso ser; outras se vão, deixando marcas profundas por onde passam; outras ainda que permanecem em calmaria, para que possamos navegar rumo à nossa felicidade… Essas sabemos nós que estão ali para que possamos ancorar e descansar o nosso espírito, para depois retomarmos a nossa viagem mais fortalecidos…
Ancorei em sossego…
Sinto-me agora a descansar…
Regressa a minha calma…
Repousa o meu pensamento…
Não encontro mais palavras…

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Tempo de dizer adeus...




Começa a apossar-se de mim o cansaço.
“É tempo de dizer adeus…” grita-me a razão.
“Não olvides este amor…” suplica o meu coração.
Já não aguento mais. A tristeza e a desilusão percorrem-me e depositam-se no meu pálido olhar, que soltou sorrisos perdidos quando te reencontrou. Nesse dia recordei as palavras que proferiste: “Não há ninguém insubstituível…”. Não concordei. Continuo sem concordar. Não se consegue substituir alguém único. Não consigo amar ninguém como te amei. Como te amo…
Só o tempo nos separou. E o tempo nos fez reencontrar. O tempo nos fez reviver momentos da nossa inocente juventude. O tempo nos fez viver momentos inesquecíveis, pelo menos para mim. O tempo nos separa novamente…
Gritos mudos saltam do meu peito apelando à minha paz. Vejo-a distante. Caminho sozinha no seu encalço. Vagueio solitária pela penumbra, percorrendo a sala das minhas recordações. Tento fechar as janelas do passado que deixam entrar as histórias que já me fizeram feliz, mas que agora libertam em mim um sentimento de mágoa profunda. Chora a minha alma… espelha-se no meu olhar…
Abandono-me, mas não deixo de te amar.
Sinto vontade de enterrar esta história mal acabada que vivemos, pois cada vez que desfolho as poucas páginas que nela existem, há uma dor que me trespassa e que faz brotar lágrimas de nostalgia, que vivem continuamente dentro de mim.
Todavia não quero esquecê-la, não quero esquecer-te…
Que sentimentos antagónicos… que agonia…
Revejo a nossa história em rascunho a cada dia que passa, a cada amanhecer, a cada anoitecer, ao deitar-me esperando que o sono chegue. Adormeço contigo no meu pensamento. Não encontro conforto a não ser o dos meus braços, com os quais envolvo o meu corpo, imaginando que são os teus que outrora me tomaram por inteiro. De corpo e alma!
Por vezes dou comigo a pensar se tudo não passou de um sonho, pois só os sonhos terminam assim, ao adivinhar o começo de um novo dia.
Não foi um sonho. Foi ilusão minha… que despertar tão amargo!
Perdi-me ingenuamente no tempo, no teu olhar meigo, escutei a tua doce voz, admirei o teu sorriso…
Agora não me consigo encontrar. Sou alma vaga perdida no meio da multidão.
Continuo navio à deriva, aguardando que a corrente me leve para junto do porto onde possa ancorar em águas calmas, pois já não tenho forças para remar.
Abandono-me ao sabor das vagas, agora que começa a apossar-se de mim o cansaço.
É tempo de dizer adeus…

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Esperança



Languidamente vagueiam os meus tristes e melancólicos dias numa esperança quase esquecida de me ver novamente nos teus braços e de sentir outra vez o teu calor.
Já nem escuto a tua voz… deixaste de me falar…
Ouço apenas um eco ténue que insiste em não sair do meu pensamento nostálgico.
Já não te procuro, apenas espero…
Apenas espero que tu me encontres.
Já não choro por ti, apenas deixo que a tua lembrança percorra o meu pensamento.
O meu sentimento? Parece adormecido, guardado no cofre do passado recente, esperando que tu o abras, para que ele possa viver de novo pleno e feliz, como já foi outrora.
O meu sonho? Foi apenas uma névoa numa fresca manhã de Outono… Dissipou-se e deu lugar agora a um dia sombrio.
Acordei da pior forma, sem que me acordasses. Acordei como se tudo não tivesse passado de uma ilusão, como se não tivesses existido na minha vida, quando fazes parte da minha existência.
Sinto por vezes o sabor a fel de uma despedida, quando nunca se disse “adeus”, onde no ar só ficou um “até breve”.
Cruzo rapidamente por ti. Tão rápido como se fosses uma sombra… Nem sei se és mesmo tu… Tudo pára à minha volta. Toda eu estremeço, o meu coração bate descompassadamente. Será alucinação?
Ouço novamente a tua voz… doce e meiga. Serena a minha alma. Inflamam-se-me os sentidos e renasce a esperança de te reencontrar. Só em ti eu me revejo. Só contigo eu quero estar.
Cercam-me os homens buscando prazer. Um prazer que não lhes posso dar, pois cada vez me sinto mais tua. És só tu quem eu desejo. És só tu quem eu amo.
Sou carniça atirada aos cães esfaimados. Luto para fugir, pois neles nada encontro a não ser um corpo que lhes transporta uma mente vazia e despojada de valores.
Vão-me fluindo as palavras enquanto o sono não me vence. Sinto-me cansada e quero adormecer para poder viver esta quimera. Adormeço contigo a habitar os meus sonhos. Porém os sonhos não me alimentam. Estou frágil e preciso de ti. Careço do teu afago, do teu carinho, de ouvir a tua voz numa fusão com o som das ondas do mar, de fixar o teu olhar brilhando com o encanto da claridade da lua, deitados nas dunas que já nos serviram de ninho, nos tempos em que as amarguras nunca tinham ocupado os prados verdejantes da nossa inocência.
Dizes que te queres encontrar… Encontrar-te-ias se não me tivesses encontrado? Encontrar-te-ias se eu não te amasse tanto assim? Algum dia a dor te vai abandonar e permitir que te encontres?
Perpetuam-se assim os meus dias com o desejo que ao te encontrares me encontres também e que possamos viver a história que me faz acreditar no amor.
Languidamente se somam os dias e lentamente vai nascendo um novo alento, enquanto a fadiga não toma conta de mim.
Até quando vai perdurar?


sexta-feira, 4 de julho de 2008

Lamento




Escuto o meu lamento no silêncio da tua ausência.
Quero sentir o toque suave dos teus dedos afagando o meu cabelo, o encanto dos teus lábios sussurrando aos meus ouvidos, beijando a minha boca ávida de desejo, ver o teu olhar de ternura que me serena a alma e agita o meu corpo.
Ficou no ar a esperança quando a ti me entreguei. A esperança de um amor renascido do Inverno da minha existência. A esperança de uma promessa que nunca foi feita. Terá sido apenas ilusão? Terei sonhado demais? Não queria acordar...
Não! Não quero aceitar uma traição do destino!
Quero-te na minha vida. Preciso de ti. Preciso que continues a fazer parte das páginas da minha história inacabada, incompleta.
Sinto um vazio invadir-me. Já não te sinto a preencheres-me. Estás agora distante, podendo estar tão perto.
O que te impede? Se calhar nem tu sabes...
Agora, no rosto onde já brilhava um sorriso sonhador, arrastam-se as lágrimas amargas da desilusão. Mais uma desilusão a somar aos desencantos vividos nesta minha curta passagem.
O mar que eu julgava serenado, agita-se novamente numa tormenta que me quebra ainda antes de conseguir ancorar no teu porto.
As forças começam a abandonar-me.
Sinto-me só neste mar sem fim. Sou navio encalhado neste oceano frio e deserto.
Procuro-te e tu não estás... Apenas persistes no meu pensamento. Ouço a tua voz, mas a minha dor continua.
Desfaleço a cada hora, a cada dia que passo sem ti.
Somam-se os dias... Diminuem-se as esperanças... E choro...
Choro até que o sono me vença e a almofada me acolha no sossego do meu leito.
Adormeço ao som do meu lamento no silêncio da tua ausência.
Mais uma noite...
Mais um amanhecer...
Mais um despertar...
Mais uma esperança...
Até que o cansaço me vença...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Acreditar



Abro a janela dos meus sentimentos para te deixar entrar. Invades-me como uma brisa de Verão, de mansinho, como se não me quisesses despertar de um sono profundo. Mas as cinzas outrora adormecidas renascem agora num fogo resplandecente que me transformam num novo ser. Fui crisálida e renasço nesta Primavera como mariposa livre, esvoaçando suavemente, deambulando pelos meus sonhos de menina.
Anseio a cada dia que passa o teu toque suave, as tuas envolventes carícias, os teus beijos que me fazem vibrar. Recordo cada pedaço teu percorrer o meu corpo numa delicada sedução que me leva ao extremo da paixão.
Anseio... Recordo... Desespero...
Preencho os meus dias numa tentativa vã de te afastar dos meus pensamentos e chega a noite. Mais uma noite solitária e fria... Mais uma noite em que a cama me espera vazia de ti. Mais um virar de página em branco que lembra o rascunho de um romance cujo autor não encontra inspiração.
Ouço a tua voz. Tão próxima, porém tão distante!
Ouço-a um dia e outro dia a cada passagem do calendário, esperando ouvir-te dizer que o nosso próximo encontro está para breve e vejo-me cair nos teus braços e a amar-te novamente... Desta vez não ouvi essa promessa e senti uma dor lancinante que trespassou o meu peito e não me deixou pronunciar uma palavra. Morri um instante. Abandonei-me no sentimento da tristeza ao ver o meu sonho desmoronar-se, ao ser acordada tão subitamente. Agora era castelo de areia construído à beira-mar, desfeito pelas ondas e arrastado para o fundo sombrio...
De repente senti que tinha que fugir.
Fui em busca do meu conselheiro das horas de desilusão. Poderoso. Envolvente. Sábio.
Dei por mim conversando de novo com o mar. Escuto o seu murmúrio que é interrompido pelas questões que assaltam o meu pensamento...
O nosso reencontro não foi em vão...`
É uma história de encontros e desencontros para a qual eu desejo agora um final feliz, guardando o passado na minha lembrança.
Nas páginas da vida existe sempre um momento certo para que as coisas aconteçam. Tantos anos de ausência só existiram para amadurecermos. Será este o momento para nós?
Quero acreditar...
De cada vez que acredito vejo uma estrela a cintilar, iluminando o meu caminho, fazendo-me caminhar na tua direcção.
O som das vagas atravessa os meus pensamentos e sorrio.
Agora sorrio outra vez, só por saber que existes e que és um ser maravilhoso que voltou a entrar na minha existência de mansinho, fazendo-me renascer das cinzas, fazendo-me acreditar de novo no amor...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Reencontro



Cruzam-se novamente os caminhos outrora separados pelas encruzilhadas da vida.

Afloram sentimentos há muito adormecidos e quase esquecidos.
Foram caminhos percorridos em paralelo, sem nos darmos conta de que um dia nos voltaríamos a encontrar com histórias idênticas, porém tão diferentes.
Procurei-te tantas vezes em vão nos locais agora vazios da tua presença e sentia uma tristeza trespassar-me.
Recordei os momentos que passámos juntos. Momentos inocentes e puros, mas tão intensos que jamais esqueci.
Tantos anos passaram...
Só uma vez os nossos olhares se trocaram e a terra tremeu debaixo dos meus pés... Mas a força da razão obrigava-me a acreditar que te tinha esquecido.
No mais íntimo do meu ser, sabia que tal não era verdade...
Agora, com o amadurecer dos anos, volto a pensar em ti e a procurar-te.
Caminhei. Caminhei várias vezes no teu encalço, sem nunca te encontrar.
Perguntei ao mar por ti, mas ele só me respondia com o seu murmúrio e eu não entendia o que ele me dizia. Passei horas olhando as vagas que te traziam para a minha lembrança, mas ela desfazia-se na espuma das ondas que suavemente acariciavam a areia aquecida pelo sol.
Num fim de tarde respondi instintivamente ao meu apelo interior e consegui reencontrar-te.
Revivi os meus anos de menina sonhadora, cujo rosto nunca tinha sentido o gosto da amargura da vida, por onde passearam sorrisos ingénuos, saídos da boca que tantas vezes te beijou apaixonadamente.
Sinto saudades desse tempo, do tempo em que te amei, do tempo em que sonhei...
Como eu queria não ter acordado!
Mas um dia acordei de forma abrupta para não te tornar a ver, para te arrancar de mim...
E busquei-te várias vezes, para depois dar por mim mergulhada num mar revolto que me consumiu a minha meninice e me roubou os meus sonhos, afundando-os para que não mais os conseguisse olhar.
Outros sonhos vieram. Outra realidades vivi. Muitas vezes morri...
Crescemos. Cresci, mas sinto agora a menina a gritar dentro de mim. A menina que chama por ti outra vez, aquela que diz "Eu nunca te esqueci!". Aquela que se apaixonou por ti ao som de "Wish you were here"... Queria que estivesses aqui. Ouço novamente essa canção e sinto esse desejo. O desejo de te ter aqui, de poder sentir a força da menina transformada agora em mulher.
Sim. Sou agora mulher. Uma mulher que fica menina assim que ouve a tua voz. Uma mulher que ainda treme quando te vê. Sou aquela que cruza novamente o teu trilho...
Agora o meu anseio é caminharmos juntos de mãos dadas, nestes caminhos outrora separados pelas encruzilhadas da vida.
Quererás tu caminhar ao meu lado?...

domingo, 30 de março de 2008

Sentimentos




Secam-se-me as lágrimas, porém não se cristalizam os sentimentos. Esses materializam-se a cada dia que se soma aos meus dias passados sem a tua presença.
Rasgam-me os ciúmes quando te vejo brejeiro a falar com outras que nada sabem sobre nós e que sorriem para ti.
São ciúmes que provêm da paixão que sinto e que não posso viver em plenitude.
Duas emoções que tendem a tornar-se mais intensas com o virar da página dos dias intrepidamente sentidos e não rotineiros, numa tentativa vã de ocupar a minha mente noutros lugares que não sejam teus.
Mas todos os gestos, todas as palavras, todos os pensamentos circulam em torno de encruzilhadas que vão encerrar na tua essência e revejo-me num beco sem saída, de onde não quero sair.
Encaro com o teu magnetismo e deixo-me ficar nesse local carregado de sedução, onde recordo os momentos vividos fervorosamente contigo e o meu intento é aí permanecer para sempre, pois só assim sinto que és meu.
Só aí podes ser meu...
Por instantes perco a lucidez, por lastimar os sentimentos que não são meus por direito.
Ardo em ciúmes!
Arrebata-me a paixão!
Abro a janela do devaneio e torno a viver esses momentos passados contigo e o meu corpo estremece ao sentir as tuas mãos passearem na minha pele arrepiada de prazer. Escuto os sons afogados em beijos sedentos de desejo e sinto cada pedaço teu percorrer-me avidamente sem cessar, para depois nos levar ao extremo da volúpia.
Abandono-me a estas sensações no meu leito, naquele onde me deitei para te receber pela primeira vez.
São estas sensações, estas recordações que me acendem e fazem crescer os meus sentimentos, que tu recusas aceitar, porque sempre disseste "Nunca te apaixones..." Tarde demais quando proferiste tais palavras. A paixão já residia em mim...
Chorei dias a fio ao perceber que não a posso viver por inteiro, pois quis o destino que só nos conhecêssemos naquela tarde de Primavera. Desde esse dia foge-me o chão cada vez que te avisto e não concebo a minha existência sem ti.
Serias meu se nos tivéssemos encontrado antes?
Serias meu se não partilhasses o teu leito com outra?
Alguma vez serás apenas meu?
Todas estas perguntas já deambularam enquanto as lágrimas teimavam em cair através do meu rosto que quer sorrir para o mundo, quando a minha alma quer gritar por ti.
Agora acalmei o meu espírito e vivo os momentos que me dás, migalhas do tempo que te vai sobrando e que te vou surripiando muitas vezes de surpresa.
Já não choro...
Secam-se-me as lágrimas, porém não me cristalizam os sentimentos...



segunda-feira, 10 de março de 2008

Ancorada

Vagueio pela penumbra da noite, numa tentativa vã de te encontrar.
Já não sei como te alcançar.
Sinto a tua presença em todas as partes do meu corpo, como se te tivesses cravado em mim.
Todas as melodias me recordam que já te pertenci. Respiro o teu odor, sinto o teu toque, acaricio a tua pele, beijo os teus lábios, aquecem-me os teus beijos ardentes...
Busco-te em todas as horas, sem sucesso. Apenas te encontro na minha memória, cada dia mais distante, porém cada vez mais presente.
Peço às estrelas que me levem na tua direcção, mas elas apenas me levam o pensamento, pois o físico já está ocupado por outra e eu martirizo-me ao imaginar os teus dias com ela. O teu despertar, quando te deitas, quando a ela te entregas...
Como é essa entrega? Em quem pensas nessas horas de prazer?
Fujo desse cenário que me consome e que me rouba a razão.
Escondo-me num lugar que só pode ser ocupado por nós, onde nos podemos refugiar sem que ninguém nos encontre, longe dos olhares mundanos que nos podem incriminar.
Nesse lugar que nos pertence, entrego-me só a ti e prostro-me a teus pés sem reservas nem pudor. Esqueço os mundos separados em que vivemos e devaneio até onde o céu é o limite e onde nos idealizo juntos, tal como nos encontros breves que temos, que quase caem no esquecimento do tempo, mas que jamais se desvanecerão da minha lembrança e engrandecem a minha paixão por ti.
Paixão... Este sentimento que me dá vida em cada instante que passamos juntos, mas que me mata lentamente sempre que não podemos estar.
É um sentimento que me aprisiona quando estou livre, que não me permite sequer conceber a minha existência ao lado de outro homem, pois és só tu quem eu anseio.
Conto os minutos devagar, enquanto a noite se torna mais sombria.
Enrouquece a minha voz interior com as tentativas de te chamar a mim.
Vou obtendo umas ténues visitas, breves momentos que me enchem de esperança e de desejo de me perder nos teus braços outra vez. E outra vez... até que o cansaço nos vença.
No silêncio da noite volto a sentir a tua sombra passear pelo meu corpo e invadir o meu ser, enquanto fecho os olhos languidamente para te voltar a ter.
Torno a olhar para o relógio e continuo a ver o tempo passar serenamente, à espera de te tornar a contemplar, de fitar os teus olhos ávidos e naufragar de novo nesta paixão onde estou ancorada...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Terror ressuscitado

Penei esta noite novamente ao reviver o terror em que estive mergulhada nos anos que já passaram e senti-me impotente. Uma fraqueza mórbida alastrou-se por todo o meu corpo e os meus músculos ficaram entorpecidos.
Julgava já ter sepultado esta sensação junto de quem ma provocava.
Esta noite ressuscitou... Ressuscitaram...
Um aperto na barriga, um nó na garganta, apoderaram-se de mim e não articulei uma palavra.
Vi o seu olhar carregado de ódio, de despeito. Da sua boca apenas saía um discurso vil, repleto de injúrias. Dirigia-se-me hostil, proferia calúnias e eu continuava sem articular uma palavra.
O pavor apossou-se de mim e nem sequer me permitiu pensar.
Fiquei-me apenas. Imóvel. Estática.Petrificada.
Abri a janela das recordações e revi os meus dias não vividos, os choros compulsivos, os temores...
Gritos mudos escapavam do meu peito e as lágrimas escorriam no interior da minha alma, manchando a rotina dos meus dias tranquilos.
Estava gélida.
Escapei-me solitária na escuridão e libertei o meu pranto na minha almofada banhada apenas pela minha sombra e, mais uma vez me vi envolvida na solidão que me acompanha.
Pedi que terminasse o sofrimento, mas somente choravam palavras de mágoa e uma dor que me alucinava.
Sinto cansaço, mas o sono teima em chegar. Encolho-me ainda mais no meu leito, tentando sentir o aconchego que desejava que viesse de outros braços que não os meus.
Fluem-me pensamentos abstractos assim que entro na sala do meu passado que mais uma vez me veio assombrar. Fecho os olhos tentando obter a paz que por vezes se desvia do trilho espinhoso que tento esmagar a cada pegada que vou deixando atrás de mim, e que me leva a parte incerta.
Sou perseguida por visões de um passado em que não amei e só queria ser feliz.
Será pecado querer ser feliz?
Porque é atroz o meu sofrimento?
Porque continuam insistentemente a querer ver rolar as lágrimas onde antes se passearam sorrisos de menina?
Lentamente avança a noite, dando lugar à madrugada.
As lágrimas que outrora percorreram a minha face começam a secar e sinto-me adormecer. A dor que me atormentava começa a dissipar-se, ouvindo agora ao longe o eco da questão que se levantou. Quando vai terminar?
Vou cedendo ao embalo que me acarinha e adormeço na esperança de um dia poder viver tranquila e enterrar de vez todos os pesadelos, colocá-los num túmulo bem fundo, para que eles não possam fugir jamais e não me voltem a assombrar as noites em que procuro sossego...

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Saudade

Choro a cada palavra que redijo.
Desejo... Saudade...
Dois sentimentos que me atormentam.
Sinto falta de carinho, do teu carinho.
Recordo os momentos em que os nossos corpos se tocaram num tempo tão breve que quase nem deu para saciar a nossa sede de desejo...
Quero perder-me no teu corpo e adormecer nos teus braços depois do prazer, envolvida no teu calor.
Quero sentir os teus lábios colados aos meus e ouvir a tua voz sussurrar ao meu ouvido, fazendo-me estremecer.
Sinto as forças abandonarem-me!
Quero arrancar-te do meu coração, mas não consigo. É mais forte que a razão.
Sou incapaz de amar seja quem for enquanto permaneceres em mim. Sim, porque tu permaneces em mim!
Não aguento mais!... Começo a abrandar... Começo a desistir...
Quis o destino que os nossos caminhos se cruzassem e esse mesmo destino fere-me com crueldade, ao não me deixar estar junto de ti!
Não sei que voz hei-de ouvir...
Não amo nem me deixo amar.
Sinto-me só!
Vejo-me sozinha na solidão das noites frias de Inverno, envolvida na escuridão, procurando conforto, mas não encontro...
Encontro apenas o silêncio e a tua recordação na minha lembrança.
Fecho os olhos para te ver, mas o frio continua.
O sono vence-me...
Adormeço na esperança de um dia ser tua, de me perder novamente no teu corpo e de adormecer nos teus braços...
Ou simplesmente digo adeus ao meu sonho...

Perda

A dor e o sofrimento que transbordaram do teu olhar, fez-me chorar em silêncio na imensidão daquele lugar soturno.
Fitava-te ao longe sentindo o meu coração dilacerado ao ver-te a contemplar o vazio.
Tive o desejo de te abraçar, de estar junto de ti, para te poder confortar neste momento tão doloroso. Mas esse lugar já estava ocupado...
A tua dor é a minha dor também.
Não. Não sei descrever a dor de perder um pai... sei qual é a dor de perder um filho. Sei qual é a dor de perder um ente querido. Sei o que é deixar partir alguém que tem o nosso sangue a correr nas suas veias; alguém que connosco partilhou momentos de alegria e de tristeza. Alguém a quem não conseguimos dizer o último ADEUS.
De repente, parece que todo o nosso mundo desabou.
Sentimos que não conseguimos mostrar e dizer o quanto amamos alguém e sentimo-nos minúsculos.
A amargura apodera-se de nós. Resignadamente sentimos a angústia na nossa alma e lamentamos as nossas mágoas.
Todavia, a nossa vida continua e temos de os deixar partir em paz...
... Para que possam velar por nós e continuem a acompanhar-nos nos momentos de tristeza e de alegria, para que nos encham a alma de luz e de serenidade, para que nos façam acreditar de novo no amor.
Nesta hora de conternação, quero que sintas o meu afecto por ti.
Ainda que o tempo e o espaço nem sempre permitam exprimir os nossos sentimentos, quero que saibas que, mesmo distante, estarei sempre contigo e o teu sorriso estará para sempre na minha lembrança.

Desejo

Trocam-se olhares indiscretos, anunciando o desejo que nos une e nos consome a alma e incendeia o nosso corpo.
O meu corpo anseia pelo dia em que os nossos corpos se vão unir numa louca paixão.
Já não aguento mais!
Inflamam-se os meus sentidos cada vez que penso em ti. Todo o meu corpo estremece.
Fecho os olhos e vejo-te.
Consigo sentir as tuas mãos a percorrerem-me e a acariciarem-me.
Os teus lábios tocam nos meus e selamos o nosso encontro.
Colam-se os corpos, unidos e, como um só, arrebatamos e explodimos prazer.
Que loucura!
Que atracção!
Não consigo resistir. É mais forte que eu...
Até quando vou deixar este desejo continuar a tomar-me o pensamento e a corroer-me?
Sinto que o nosso encontro está para breve e nesse dia deixar-me-ei levar pela loucura...
Nesse dia soltarei o meu grito de liberdade!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Despertar

Sinto-me a despertar de um sono profundo que me consumiu a alma no Inverno sombrio da minha existência.
O Sol começa a romper e a invadir-me todos os sentidos com cheiros, cores e sentimentos primaveris.
Tal como uma flor na Primavera, sinto-me desabrochar. Os raios de Sol acariciam o meu rosto e revejo-me a viver com mais força e plenitude.
Desejos profundos arrastam-se languidamente até ao meu corpo e sucumbo de prazer.
Deixo-me levar por esta loucura, apenas no mais íntimo do meu pensamento e sinto-me livre!
Livre para voar, para projectar os meus sentimentos e os meus desejos em ti. Aqui ninguém me pode deter e eu deixo-me ir, até ficar retida num sonho proibido.
A minha memória sacode o meu corpo e estremeço. Não consigo parar. Estou em êxtase e sinto-me vibrar.
Lentamente recupero para a realidade, viva, feliz por te ter encontrado e por fazeres parte da minha Primavera, onde tudo exala vida e me vejo renascer.
Tudo é possível, tudo se constrói, nada parece aniquilado.
Alguns anos se passaram, vendo passar a minha vida sem a conseguir agarrar...
Todos os meus sonhos se desmoronavam aos meus olhos, tal como os castelos de areia construídos à beira do mar bravio.
O tempo passou e a minha vida estagnou e eu nada podia fazer...
Atrofiada...
Por medo? Cobardia? Amor?
Nem mesmo o amor mais forte suporta tantas desilusões!
A chama apaga-se.
Procura-se novo alento.
Os nossos caminhos cruzaram-se numa tarde de Primavera e tu lá estavas lindo, sereno...
"Quando alguém se cruza no nosso caminho, traz sempre uma mensagem. Encontros fortuitos são coisa que não existe. Mas o modo como respondemos a esses encontros determina se estamos à altura de recebermos a mensagem".
O nosso encontro não foi fruto do acaso.
Que mensagem nos espera?
Estaremos à altura de a receber?
Abandono-me ao sabor destas sensações que emites em mim.
Serenidade... Paixão... Esperança... Vida!...
E renasce assim uma nova MULHER!

Mundo de incertezas

Estou envolta num mundo de incertezas.
Sinto-me cercada como uma presa que não tem para onde fugir.
Vejo-te em toda a parte e não te vejo em parte alguma.
Desespero...
Choro e rio...
Atormento-me e acalmo-me...
Quero-te e não te posso querer...
Sinto dor, sinto prazer...
Prazer ao pensar em ti, ao imaginar sentir o teu corpo colado ao meu.
Deitada na areia escaldante, imagino-me como um rio que desliza as suas águas no teu leito macio, para depois me acalmar na tua foz. Logo de seguida sou lançada ao mar e recomeça a minha inquietude.
Não consigo deixar de pensar em ti. Parece loucura!
Não sei o que fazer.
Preciso esquecer-te, mas não quero.
Eu queria ter-te aqui, queria estar perto de ti...
Porém, só agora os nossos destinos se cruzaram e outros valores se apoderaram das nossas vidas.
O desejo é forte!
Até quando vamos conseguir resistir?
Preciso do teu abraço forte para apaziguar o meu espírito ou para incendiá-lo ainda mais...
Que sensações antagónicas que tenho dentro de mim! Não sei como lidar com elas.
Sinto o teu toque suave a percorrer o meu corpo e sinto as minhas mãos tocarem o teu.
Fecho os olhos e os nossos lábios trocam beijos ardentes de paixão!
Sou interrompida por um despertar que me volta a atormentar e volto a ficar envolta num mundo de incertezas...

A dor da verdade

Acusas-me de chorar e de gritar mentiras, quando só te digo a verdade.
Não é só a ti que dói a verdade. Também a mim me dói saber que não posso depositar os meus sentimentos em ti, ou simplesmente libertar-me para poder amar outra pessoa que me permita materializar esta paixão.
Neste momento apenas podemos viver este amor na imaginação e perdemos sem nunca termos ganho coisa alguma.
Despedimo-nos, sem nunca nos termos encontrado.
Choramos as nossas mágoas pela noite fora, sem conseguirmos secar as nossas lágrimas, por promessas que nunca nos fizeram.
Reclamamos a saudade do beijo apaixonado que nunca nos deram.
Exigimos que preencham o espaço vazio da nossa cama ao lado do nosso, sem termos esse direito, pois esse alguém já partilha o seu leito com outra pessoa, ou então somos nós que estamos presos a outro.
Todos estes sentimentos fazem crescer o egoísmo em nós e aguçam-nos o ciúme por quem nem conhecemos e sofremos por não conseguirmos concretizar a nossa paixão.
Sentimos paixão, fantasiamos momentos em que nos entregamos sem pudor, para de seguida adormecermos cansados nos braços de quem tanto amamos ou contemplarmos o seu rosto adormecido pela madrugada que nos pode agora aquecer.
E sorrimos, para logo não pararmos de chorar, porque afinal a madrugada continua fria e tudo não passa de um sonho que temos sem dormir.
Dói! E tentamos adormecer para acalmar a dor e, quem sabe, podermos sonhar um pouco mais.
Esperamos amanhecer e no despertar desesperamos por saber que não conseguimos alcançar esse ser que nos impregna o corpo e a alma com ideais impossíveis, com sensações nunca antes vividas, que nos traz desaforo e alegria, choro e sorrisos, calma e agitação... E a dor regressa. Ou será que nunca desapareceu?
Os meus olhos marejam-se de lágrimas ao recordar as palavras que se escapam dos teus dedos nas noites em que estamos juntos sem nunca estarmos.
Sim, é como um vício. Percorre-nos o corpo e a mente, está presente em todas as horas, todos os dias sem nunca nos largar, sem nunca estar presente.
Mas não. Não fecho os olhos ao abraçar-te para me imaginar nos braços dele. Não te faço carícias supondo que são os cabelos dele que afago.
É a ti que eu abraço. É a ti que eu passo a mão no rosto, tentando em vão apagar a tristeza que nele se espelha, porque apesar de não te conseguir amar como desejas, não consigo também rejeitar-te, pois no fundo és o homem que idealizei, mas que chegou quando o meu coração já estava prisioneiro de uma paixão como a tua.
E sofro... E choro...
Sofro por sofrer e por te ver sofrer.
Choro ao tentar juntar os pedaços que sobram dos meus dias de melancolia e por te ver chorar.
Choro porque me acusas de chorar mentiras!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Vida e mar...

Peço ao mar que escute o meu grito de dor e choro em silêncio.
O mar ouve-me e responde com o seu murmúrio.
Tal como o mar não pára, também a vida se renova; nada é igual.
Cada onda que se levanta é diferente da outra que se aproxima e tudo se enche de alegria e outras vezes de temor.
Por vezes comparo a minha vida ao mar revolto, onde cada onda é uma incerteza, onde só consigo escutar os sons que me atormentam e me fazem sofrer. Depois vem a calma quando penso em ti e o mar transforma-se.
Deixo-me embalar nas suas vagas e deixo-me levar para longe, onde só me encontro contigo, afastados do mundo.
O meu coração bate descompassadamente quando te avisto nos meus sonhos. Os nossos corpos juntam-se num acto mágico e transpiramos prazer.
Não consigo deixar de pensar em ti. Invades-me o pensamento. Não sei o que sinto.
Quero esquecer-te, mas o coração bate mais forte e não permite. O que é que eu faço?
Não quero magoar ninguém. Não seria justo. Assaltam-me sentimentos de culpa...
Sinto-me dividida, tal como as vagas que se quebram no mar e não sei que rumo tomar.
Quero paz! Preciso de paz!
Mas o mar não pára de se agitar. Este mar que me traz vida, mas que atormenta a minha alma.
Sinto a paz e ao mesmo tempo desassossego quando ouço a tua voz, tal como quando ouço o murmúrio do mar, a quem eu peço que escute o meu grito de dor. Mas eu não entendo o que ele me diz...
Queria ser tua e que tu fosses meu.
Não!
Falta-me a coragem e invadem-me sentimentos incertos no silêncio da minha alma, interrompidos pelo som das vagas no oceano imenso.
Sinto-me perdida. procuro-te e só te encontro nos meus sonhos. Então fecho os olhos. Tento alcançar-te, mas estás tão distante...
As horas passam devagar e eu anseio ver-te.
A noite tarda a chegar. Quero dormir para contigo poder sonhar e assim estar perto de ti.
Mas o sonho não é real e volto a gritar de dor.
Só me resta esperar, tal como os homens do mar, quando anseiam pela recompensa da pescaria.
Há que ser cautelosa neste mar da vida, que nos enche de alegria e outras vezes de temor.

Preciso...

Preciso...
Preciso de colo, preciso de carinho...
Sentir-me segura e amada e ficar sossegada, a sentir as tuas carícias e a tua respiração.
Estou envolta numa solidão!
Queria sentir-me de novo pequenina, tal como uma criança que necessita de colo para se acalmar.
Quero os teus braços fortes a envolverem o meu corpo num suave aperto.
Sinto a tua falta. Sinto falta de um ombro amigo que me escute e me compreenda, sem nada perguntar.
Não quero que me questionem. Somente que me escutem.
Já não aguento mais!
As lágrimas correm-me pelo rosto, sem saber qual a razão. Ou será que sei e não consigo admitir?
Já não sei se o amo ou se vale a pena continuar a investir nesta relação...
Só queria estar perto de ti ou então ver-te ao longe... Apenas ver-te e sentir a tua presença, o teu olhar.
Julgava já estar bem.
Assaltam-me novamente os pensamentos e vem o desespero, a angústia, um aperto, um arrepio, uma mistura de sensações que por vezes não sei descrever.
Quero-te e não te quero!
Não consigo controlar o meu desejo.
Não consigo acalmar o meu coração.
Já é tarde e o sono tarda em chegar.
Fecho os olhos numa tentativa de te ver.
Eis que vislumbro o teu rosto e vejo-te a caminhar para junto de mim. Então as nossas mãos tocam-se e a nossa paixão é selada por um beijo quente e profundo.
Não! Não quero acordar!
Mas a realidade é mais forte que o meu sonho e desperto...
Desperto de novo para para a minha vida, para a minha solidão...

Pensamentos incertos

Já se passaram alguns anos.
As feridas já fecharam, mas as cicatrizes profundas continuam a dilacerar o meu coração.
Cada vez que penso nesta relação tenho vontade de chorar e fico sem saber o que fazer. Sinto-me incapaz de apostar. Já não vislumbro um futuro feliz. Vejo, isso sim, um percurso amargo, minado de desconfianças, discussões e vontade de jogar tudo para o espaço...
Mas depois, os compromissos que assumimos assaltam-me o pensamento e o meu espírito volta a penar.
O que posso fazer?
Será que estou a ser egoísta ou será que nem sequer consigo pensar em mim?
Peço!... Peço a todas as entidades superiores que me ajudem a retirar esta confusão que me consome dia após dia, que me faz acordar de madrugada e que faz rolar lágrimas de desespero pelo meu rosto.
A tristeza e a frustração apoderam-se da minha alma e fazem-me chorar e querer gritar.
Gritar!
Gritar bem alto contra todos e contra ninguém.
Invadem-me pensamentos incertos, no silêncio da minha alma, interrompidos pelos gritos das crianças e pelo cantar das aves. Imagino um novo amor.
Sinto-me perdida e só no meio da multidão. Procuro-te e não te encontro. Fecho os olhos e vejo-te. tento chegar-te, mas estás longe... estás distante... Não vejo o teu rosto...
E eu estou aqui à tua espera.
As horas passam devagar e eu anseio ver-te.
A noite tarda a chegar. Quero dormir para contigo poder sonhar e assim poder estar perto de ti.
Estou triste... Não te vejo... Vem para junto de mim!
Olha-me com esse teu olhar doce e penetrante, que parece ler todos os meus pensamentos.
Sinto-me bem. Não! Sinto-me confusa! Sinto-me triste! Que misto de desaforo e euforia!
Esto descontrolada. Não sei o que pensar. Só me resta escrever e esperar.
Esperar que me passe esta dor e que alguém oiça o meu desatino e me console com amor...
Penso em ti novamente e nos momentos que passámos juntos.
Foram poucos os bons momentos ou será que os maus foram tão marcantes que entorpecem o meu pensamento e não os consigo recordar?
Recordo as palavras que muitas vezes me dirigiste, os teus gestos de revolta e de ódio quando me acusavas e esqueço quase tudo o que de positivo se passou entre nós. Depois vinha o arrependimento e passava... ou assim o fingíamos.
E mais um dia, mais um mês, mais um ano se somava e as feridas saravam, mas permaneciam as cicatrizes...

...2005

Mais um desabafo hoje, quase no terminus do ano.
2005 está a chegar e o meu sofrimento continua.
De vez em quando assaltam-me as dúvidas, as angústias, os receios, os anseios... Dá-me vontade de chorar, mas então penso... penso nos meus filhos e que tenho que despender de todas as minhas forças para continuar a dar-lhes amor e carinho.
Quanto à minha dor, essa continua bem forte.
As feridas saram, mas a dor... Ah! essa está lá no meu peito, oprimindo o meu coração.
Por vezes parece que vivo num pesadelo que nunca mais acaba. Vivo sobressaltada pela ideia de que, apesar de fazer coisas normais, nas mentes doentes e maldosas, transformam-se nas piores atitudes do ser humano.
A falta de respeito e de humanidade chegou à minha vida.
Sou oprimida, acusada, humilhada, agredida. Nestas alturas há um grito interior que clama: "Chega!"
...De seguida vêm os pedidos de desculpa, o "amo-te" e, mais uma vez, o benefício da dúvida, a esperança de que cheguem os ventos de mudança.
Até quando isto vai durar?
Todos os pesadelos têm um fim, quando acordamos...
Qual será o final deste?
Quando vai ser o acordar?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Amor impossível...

Choras?
Choras por um amor impossível, porque tu já pertences a alguém e o coração de quem amas não te ama com o mesmo fulgor que o teu. Esse coração está entregue a outro. E choras...
Também eu choro por me sentir o pior dos mortais, quando te vejo sofrer.
Como eu queria mandar no meu coração e dizer-lhe:
"_ Vai! Ama aquele homem que te adora! Vai! Sê feliz e fá-lo feliz também!"
Mas ele teima em não ouvir a voz da razão.
Contudo, mesmo que ouvisse, também tu já pertences a alguém e o nosso amor continuaria a ser impossível... E a dor permaneceria.
Porque continua o coração a preparar-nos estas armadilhas?
Para nos pôr à prova?
Para provar o quê?
Que somos seres racionais, que apesar de estarmos perdidamente apaixonados conseguimos resistir à tentação carnal?
Como sobreviver sonhando com esse alguém inalcançável, com quem desejamos ardentemente estar, mas não podemos tocar?
Dói e choras...
Dói e choro eu também...
Choramos em separado, mas juntos por uma mesma causa diferente.
Como seria mais simples se chorássemos um pelo outro!
Sinto o teu sofrimento, porque também eu sofro da mesma forma.
Vivo numa gaiola dourada que tem a porta aberta para eu poder voar quando quiser. Espreito por essa porta, abro os olhos para o mundo, mas não me atrevo a voar, as minhas asas não se movem.
Sinto-me prisioneira, como se dependesse de alguém que me pegasse com as mãos para me largar de seguida e me obrigasse a voar, deixando a brisa levar-me para onde quisesse...
Enquanto essas mãos não vêm, eu deixo-me estar imóvel, aninhada na minha gaiola dourada, a ver passar aqueles que me contemplam.
E vou-me deixando ficar...
Vejo um ser puro que se aproxima e que me quer, tal como uma criança que namora o brinquedo há muito desejado, mas eu não estou preparada a deixar-me ir.
Ouço o teu coração chorar em silêncio, quero abraçar-te, mas fico entorpecida, sem conseguir mover-me ou dizer algo que te console.
Pelo contrário saem-me da alma as palavras que te magoam, que te causam amargura e desilusão, e que me lembram que também eu estou magoada e que vivo num mundo onde só é possível amar através do sonho, onde eu não posso tocar, apenas sonhar...
Desistes por hoje.
Vais embora e nada mais dizes.
E choras...
Também eu choro por te sentir chorar...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sonho

Não posso desistir do meu sonho, quando tu és o meu sonho!
Acordo para mais um dia, em que anseio ver-te e ficar nos teus braços, sentindo o teu calor, ouvindo as nossas respirações ofegantes...
Magoa-me saber que pensas que quero mais alguém, quando és só tu quem eu quero.
Ouço um grito interior que teima em ficar mudo, quando quero extravasar aquilo que sinto por ti. Como eu queria gritar para o mundo a plenos pulmões, mas a voz da razão faz-me calar o grito que fica entalado na minha garganta e sufoca-me!
Quero que acalmes as águas revoltas do meu ser quando penso em ti e sinto que não te posso ter...
Quero que sejas o meu porto seguro nas águas serenas de um rio que corre com destino ao mar. Um mar que se agita, que brinca, que vibra de vida... tal como eu me sinto quando estou junto de ti.
Sossega-me... Agita-me... Faz-me viver... Faz parte do meu sonho acordado...
Sonho contigo e desperto. As mãos escorregam pelo lugar frio ao meu lado. Um espaço que eu queria que fosse teu, que te pertencesse. Fico acordada e invadem-me os ciúmes. Ciúmes de quem partilha contigo o teu leito, no lugar que eu queria que fosse meu, onde eu te poderia contemplar enquanto dormias, onde eu te poderia abraçar e sentir o teu calor, enquanto tentava também eu adormecer.
Nada mais resta que o silêncio da madrugada. Um silêncio atroz que me fere e mata por dentro, que me faz sofrer.
Mais um dia sem te ver, mais uma noite sem te ter...
Somam-se assim os dias e as noites e eu continuo a sonhar.
Valerá a pena sonhar?
Valerá a pena continuar a adormecer aguardando os sonhos onde tu entras, mas onde eu não te posso tocar?
Desespero. Fico sem saber o que fazer e acordo.
Acordo para mais uma madrugada fria e olho para o lugar vazio ao lado do meu, que poderia ser teu.

Mais um dia sem ti...
E assim se somam os dias e se diminuem as esperanças, aguardando por um breve momento contigo, onde preencho parte do vazio que há em mim. Um momento onde consigo ser feliz e onde por instantes esqueço a dura realidade em que vivo, onde restam depois apenas os sonhos não vividos por inteiro.
Espero por ti. Espero e tu não respondes às minhas solicitações...
Estarás muito ocupado?
Não pensarás mais em mim?
Responde-me!
Diz qualquer coisa, por mais banal que seja...
Tira-me desta ilusão. Diz-me para ter juízo, pede-me para te esquecer, pede-me para acordar.
Ou então faz-me acreditar que o meu sonho pode ser possível e que não posso desistir, pois pior que morrer é deixar um sonho morrer.
Valerá a pena sonhar?
Amanheceu... Acordo para mais um dia...
Irá o sonho esvanecer-se?...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Traição?...

Traição?...
Não, não posso falar de traição, daquela que se consuma com o selar de um beijo ou com a junção de dois corpos.
Os meus lábios e o meu corpo pertencem a um só homem, aquele que eu sempre amei. Sim, porque eu sempre te amei!
O que houve então?
Houve a procura de palavras amigas, de alguém que falasse a mesma linguagem que eu, que me compreendesse e que nada me pedisse em troca, a não ser, também, a minha compreensão e amizade, nos momentos bons e maus.
Falei-te muito dessa amizade, sim... Se calhar para te provocar... Mas tu não compreendeste...
Perdoa-me se te suscitei muitas dúvidas, mas foi só para te acordar desse sono profundo em que te encontravas, para que soubesses que existo e que havia alguém que me escutava, que ouvia os meus problemas, que me deixava desabafar. Há muito que havias deixado de me ouvir. Sentia-te ausente.
Perdoa-me, pois hoje sei que mexi nas areias movediças que se atravessaram nos nossos caminhos e que, por mais segura que seja, poder-nos-íamos ter magoado ainda mais, apesar de nos amarmos.
Sim, porque eu sempre te amei.
Eu sempre te amei...
Tantas palavras cheias de mágoa, seguidas de silêncio que quase me enlouqueceram, que me confundiram os sentimentos...
Hoje eu sei que sempre existiu amor, porque eu sempre te amei.
Eu sempre te amei...

Filha

Ainda não viste a luz do dia...
No entanto, sinto que me pertences, desde o dia em que soube da tua presumível existência.
És minha! Pertences-me! És parte de mim! Amo-te!
Desde o primeiro dia que senti que és a filha que sempre desejei. A minha filha...
Juntamente com o teu irmão, são o elo que une a nossa família, que nos fazem valorizar a vida, que nos fazem lutar e acreditar no dia de amanhã.
Perdoa-me se te tenho feito sofrer dentro de mim.
Perdoa-me se sentes o meu sofrimento que só a mim me diz respeito.
Eu devia ser o teu porto seguro, inabalável, mas sinto-me incapaz, pois as mágoas têm sido muitas. O choro, por vezes, parece não terminar, a tristeza reina dentro de mim e não tenho vontade de viver mais...
De súbito, sinto a tua vida e tenho vontade de lutar mais um dia.
Um dia após o outro, com fé e esperança que o futuro nos sorria e que tenhamos momentos de felicidade.
Sim, digo momentos, pois a vida não é plena de felicidade.É feita de momentos que vamos relembrando ao longo da nossa existência.
Mas só de vos sentir parte de mim, eu sou feliz!

Nuvem de fumo

A luz que nos une parece que se desvanece como uma nuvem de fumo, num dia de Verão, onde sopra uma leve brisa.
As minhas lágrimas escorrem-me no rosto, à medida que eu sinto a chama do nosso amor a apagar-se.
Não! Não pode ser!
Um amor destinado para nós desde que nos vimos naquele dia de Inverno e que cruzou os nossos caminhos, não pode terminar assim...
Onde pára aquela magia? Onde está a força imensa que nos fazia lutar? Ou seria tudo ilusão?...
Temos que lutar...
Mas por vezes sinto que só eu luto e então penso:
Porque hei-de lutar?
Para quê lutar?
Porque hei-de pensar numa pessoa que tem demonstrado pensar somente naquilo que lhe interessa? Numa pessoa que diz ter perdido a própria fé e que só pensa nos seus próprios ideais enquanto ser mortal?
Como posso confiar em ti?
Como posso pensar numa pessoa que por vezes não pensa em si próprio e deixa que um intruso lhe trace as linhas do seu destino e lhe consuma a alma?
Como posso confiar em ti, que deixas esse intruso permanecer nas nossas vidas?
Esse intruso é como um estranho que andou escondido durante anos a vigiar os nossos passos, para saber qual o melhor momento de começar a destruir, pouco a pouco, as nossas vidas.
O nosso destino era sermos felizes. Nós e os nossos filhos, frutos do nosso amor. A nossa família apenas, sem esse intruso, esse monstro que está a consumir a nossa luz.
Afasta-te das trevas e volta a ser nosso!
Volta para nós, que sentimos tanto a tua falta, do homem que nos protegia, nos amava, que não deixava nada nem ninguém intrometer-se no nosso destino, aquele que tinha fé!
Volta a ser parte da minha luz...

Folhas de Papel

Minhas folhas de papel...
As únicas com quem posso realmente desabafar, que me compreendem, mas que infelizmente não me dão respostas...
Há já algum tempo que não necessitava de vos falar. Ou talvez tivesse receio de o fazer. Hoje chegou novamente esse dia.
Há alturas da nossa vida em que surgem dúvidas.
A fé.
Será legítimo perdê-la, revoltarmo-nos contra quem nós sabemos que é Omnipotente e que nos governa o nosso destino?
Com que direito questionamos aquilo que nos está destinado, a partir do momento em que pedimos para voltar?
Com que direito se pede a uma pessoa para não dizer aquilo que nos vai na alma?
E serão estes os pensamentos que te vão na alma?
Quando mos transmites peço a Deus que não te ouça, que te perdoe e tenho esperanças que não sintas aquilo que dizes. Tenho esperanças que sejam blasfémias, fruto de uma substância que te faz falar assim, que faz com que te transformes num homem que nunca desejei conhecer.
Essa substância... Esse líquido... Esse veneno... Repugna-me! Tenho nojo e ódio quando falo nele!
Destruidor de lares! Foi ele que tirou parte da minha alegria de viver.
Por causa desse intruso tenho chorado lágrimas de sangue, pois ele é o causador de tanto sofrimento, o que faz repetir as palavras que magoam e destroem o mais forte dos sentimentos.
No final, quando o confronto de ideias termina, surgem as dúvidas, os sentimentos que se misturam, as recordações e os medos que nos assombram os pensamentos.
Já não tenho certezas.
Tudo é confuso! Tudo é confuso!
E só vocês me ouvem, minhas folhas de papel, mas nada me dizem...

Filho

Meu filho!
Minha Vida!
Aquele que me faz viver e ter esperança no dia de amanhã.
Oh, Luz dos meus olhos!
És aquele por quem sempre ansiei.
És o fruto de um amor sofrido, mas herói, vencedor.
Para ti eu olho e vejo espelhado a inocência de um ser que nos ama e só nos pede o nosso amor em troca.
Cada dia que passa vejo-te crescer e cresce ainda mais o meu amor por ti.
Cada dia que passa sinto cada vez mais que a minha vida sem ti não faria sentido.
Quando te olho, lembro-me do amor que te originou, aquele que sempre soube vencer, apesar do destino duro e amargo se ter cruzado tantas vezes por nós.
Então nasceste e o nosso amor cresceu ainda mais e nós repartimo-lo por um ser inocente, que és tu, meu filho!

Porto de abrigo

Eras o meu porto de abrigo.
Sempre que me sentia só, procurava o teu colo e sentia-me segura, no meu porto de abrigo.
Sempre que me sentia angustiada, deprimida, eu procurava-te.
Podia vir a maior tempestade, eu não sentia medo, pois tinha o meu porto de abrigo.
Agora sinto-me só e não tenho onde me abrigar.
Sinto-me angustiada e deprimida e tu estás longe, mesmo estando perto.
Por vezes parece que tudo se está a desmoronar e sinto medo, sinto-me perdida, sem saber o que fazer.
Já não tenho mais argumentos. Sinto-me derrotada por algo que nem argumentos tem para me confrontar e sinto que te vou perdendo...
Volta! Volta a ser o meu porto de abrigo.
Vem e liberta-te!
Volta a ser meu!...

Sofrimento

Sofro...
Vivo num sofrimento...
Sinto-me só, mesmo sabendo que há gente à minha volta...
Quero desabafar com alguém ou apenas contemplar o horizonte sem nada dizer, apenas ouvir o som do silêncio...
Sinto tristeza e solidão...
Não sou compreendida...
Por vezes não tenho vontade de viver.
Tenho vontade de chorar e chorar até que o cansaço me vença e eu adormeça, para voltar a acordar e viver o outro dia, com esperança ou talvez não...
Vejo-me a caminhar num túnel escuro, vazio, onde apenas ouço o eco dos meus próprios passos, do meu pensamento e fico distante.
De repente, vislumbro uma ténue luz ao fundo do túnel que vai ficando mais forte à medida que dela me aproximo e me afaso do vazio e do sofrimento.
Essa Luz!... a minha razão de viver, a minha alegria, a minha esperança, a minha própria vida!
Essa luz brotou de dentro de mim e deu um novo alento à vida.
Fez-me descobrir um novo amor: forte, inquebrável, inabalável. infinito!
É por ele que vivo e luto, sem ver fronteiras nem obstáculos.
Sofro... Mas vivo...