segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Doce setembro

Despede-se de modo nostálgico o verão, cansado de tanto tentar vingar, crescer, brilhar. Caem as folhas docemente no silêncio da tarde de outono. Gela o meu coração ao brotarem as lágrimas de despedida através dos meus olhos que, até hoje, iam sorrindo. Sorrisos ténues que fui libertando ao longo destes anos, para esconder a tristeza que me envolvia a cada despedida tua. São horas... são horas de nos despedirmos mais uma vez agora, não com um “até breve” mas com um “até sempre”, pois não há forma de sermos um só. Fingi(mos) que fomos, para evitar os olhares indiscretos, palavras mal intencionadas. Palavras... o mundo é feito de poucas ações e muitas palavras... Palavras que muitas vezes teimam em não sair, que se vão aglutinando ao longo do tempo e que, na hora de sair, mais não sai a não serem as lágrimas provindas de um pranto de mágoa e de cansaço por não ter conseguido ter-te só para mim. Estou cansada... sinto as forças a esgotarem-se a cada passo que dou ao teu lado. Já não aguento mais. O lugar com que eu tanto sonhei nunca foi meu, não será. Por vezes nem o amor é capaz de fazer vingar um desejo. Quero gritar e não consigo. Sufoco nas minhas próprias palavras. Não encontro argumentos. Não há argumentos. Apenas há a vida que tem que ser vivida consoante as nossas escolhas. Poderíamos lutar? Poderíamos vencer? À custa de quem? Seríamos felizes depois? Tantas perguntas sem resposta! Tanta angústia que me devasta. Ver-te assim frágil, corta-me aos bocados e morre um pedaço de mim.  Cai a noite... o sono não vem, apesar de os olhos já não se manterem abertos. Mais uma noite sem ti, como tem sido sempre até hoje, mas agora com a esperança adormecida. Quero ser feliz! Quero andar de mãos dadas na rua, caminhar na areia da praia, abraçar, beijar, amar, amar, amar! Sei que poderei não vir a amar mais alguém da forma como te amei, mas poderei voltar a amar. Amar serenamente e sem medo de ser crucificada. Contigo ao meu lado sem estares, tal não era possível. Sentia-me algemada sem o estar, pois ao mesmo tempo nunca me fizeste sentir presa. Assaltam-me a memória as lembranças dos breves momentos que passei ao teu lado, sempre condicionados pelo tempo. O tempo... sempre o tempo a controlar, pois não era junto de mim que poderias estar o tempo inteiro. Outras razões que o coração tão bem conhece te levavam para longe de mim. Vivi assim vários anos pela metade, sentindo-me incompleta de cada vez que tinha de dizer “até breve”. Agora sou eu... despeço-me em lágrimas no teu regaço. Já não tenho forças para ir em busca da outra metade. Esvazio-me por completo. Estou exausta... já não subsisto apenas com as migalhas. Quero mais... quero começar de novo... quero abrir um novo capítulo. Deste lindo amor, resta a amizade e a promessa de nunca nos abandonarmos, sem nada em troca, sem exigências, sem cobranças. Apenas e só a amizade... A cada reencontro as lágrimas teimam em aparecer, o nó na garganta, o coração apertado, como se de folhas de outono se tratasse ao soltarem-se da árvore que outrora lhes deu vida. E tombam... no doce setembro. 26/09/2015