quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A dor da verdade

Acusas-me de chorar e de gritar mentiras, quando só te digo a verdade.
Não é só a ti que dói a verdade. Também a mim me dói saber que não posso depositar os meus sentimentos em ti, ou simplesmente libertar-me para poder amar outra pessoa que me permita materializar esta paixão.
Neste momento apenas podemos viver este amor na imaginação e perdemos sem nunca termos ganho coisa alguma.
Despedimo-nos, sem nunca nos termos encontrado.
Choramos as nossas mágoas pela noite fora, sem conseguirmos secar as nossas lágrimas, por promessas que nunca nos fizeram.
Reclamamos a saudade do beijo apaixonado que nunca nos deram.
Exigimos que preencham o espaço vazio da nossa cama ao lado do nosso, sem termos esse direito, pois esse alguém já partilha o seu leito com outra pessoa, ou então somos nós que estamos presos a outro.
Todos estes sentimentos fazem crescer o egoísmo em nós e aguçam-nos o ciúme por quem nem conhecemos e sofremos por não conseguirmos concretizar a nossa paixão.
Sentimos paixão, fantasiamos momentos em que nos entregamos sem pudor, para de seguida adormecermos cansados nos braços de quem tanto amamos ou contemplarmos o seu rosto adormecido pela madrugada que nos pode agora aquecer.
E sorrimos, para logo não pararmos de chorar, porque afinal a madrugada continua fria e tudo não passa de um sonho que temos sem dormir.
Dói! E tentamos adormecer para acalmar a dor e, quem sabe, podermos sonhar um pouco mais.
Esperamos amanhecer e no despertar desesperamos por saber que não conseguimos alcançar esse ser que nos impregna o corpo e a alma com ideais impossíveis, com sensações nunca antes vividas, que nos traz desaforo e alegria, choro e sorrisos, calma e agitação... E a dor regressa. Ou será que nunca desapareceu?
Os meus olhos marejam-se de lágrimas ao recordar as palavras que se escapam dos teus dedos nas noites em que estamos juntos sem nunca estarmos.
Sim, é como um vício. Percorre-nos o corpo e a mente, está presente em todas as horas, todos os dias sem nunca nos largar, sem nunca estar presente.
Mas não. Não fecho os olhos ao abraçar-te para me imaginar nos braços dele. Não te faço carícias supondo que são os cabelos dele que afago.
É a ti que eu abraço. É a ti que eu passo a mão no rosto, tentando em vão apagar a tristeza que nele se espelha, porque apesar de não te conseguir amar como desejas, não consigo também rejeitar-te, pois no fundo és o homem que idealizei, mas que chegou quando o meu coração já estava prisioneiro de uma paixão como a tua.
E sofro... E choro...
Sofro por sofrer e por te ver sofrer.
Choro ao tentar juntar os pedaços que sobram dos meus dias de melancolia e por te ver chorar.
Choro porque me acusas de chorar mentiras!

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