Quando os ouvidos dos outros não nos escutam, só nos restam as palavras que saem da nossa mente directamente para o papel... Foi isso que fiz durante alguns anos da minha vida, tão jovem ainda, e que agora tenho coragem de partilhar com quem as quer escutar em silêncio...
domingo, 30 de março de 2008
segunda-feira, 10 de março de 2008
Ancorada
Vagueio pela penumbra da noite, numa tentativa vã de te encontrar.
Já não sei como te alcançar.
Sinto a tua presença em todas as partes do meu corpo, como se te tivesses cravado em mim.
Todas as melodias me recordam que já te pertenci. Respiro o teu odor, sinto o teu toque, acaricio a tua pele, beijo os teus lábios, aquecem-me os teus beijos ardentes...
Busco-te em todas as horas, sem sucesso. Apenas te encontro na minha memória, cada dia mais distante, porém cada vez mais presente.
Peço às estrelas que me levem na tua direcção, mas elas apenas me levam o pensamento, pois o físico já está ocupado por outra e eu martirizo-me ao imaginar os teus dias com ela. O teu despertar, quando te deitas, quando a ela te entregas...
Como é essa entrega? Em quem pensas nessas horas de prazer?
Fujo desse cenário que me consome e que me rouba a razão.
Escondo-me num lugar que só pode ser ocupado por nós, onde nos podemos refugiar sem que ninguém nos encontre, longe dos olhares mundanos que nos podem incriminar.
Nesse lugar que nos pertence, entrego-me só a ti e prostro-me a teus pés sem reservas nem pudor. Esqueço os mundos separados em que vivemos e devaneio até onde o céu é o limite e onde nos idealizo juntos, tal como nos encontros breves que temos, que quase caem no esquecimento do tempo, mas que jamais se desvanecerão da minha lembrança e engrandecem a minha paixão por ti.
Paixão... Este sentimento que me dá vida em cada instante que passamos juntos, mas que me mata lentamente sempre que não podemos estar.
É um sentimento que me aprisiona quando estou livre, que não me permite sequer conceber a minha existência ao lado de outro homem, pois és só tu quem eu anseio.
Conto os minutos devagar, enquanto a noite se torna mais sombria.
Enrouquece a minha voz interior com as tentativas de te chamar a mim.
Vou obtendo umas ténues visitas, breves momentos que me enchem de esperança e de desejo de me perder nos teus braços outra vez. E outra vez... até que o cansaço nos vença.
No silêncio da noite volto a sentir a tua sombra passear pelo meu corpo e invadir o meu ser, enquanto fecho os olhos languidamente para te voltar a ter.
Torno a olhar para o relógio e continuo a ver o tempo passar serenamente, à espera de te tornar a contemplar, de fitar os teus olhos ávidos e naufragar de novo nesta paixão onde estou ancorada...
segunda-feira, 3 de março de 2008
Terror ressuscitado
Penei esta noite novamente ao reviver o terror em que estive mergulhada nos anos que já passaram e senti-me impotente. Uma fraqueza mórbida alastrou-se por todo o meu corpo e os meus músculos ficaram entorpecidos.
Julgava já ter sepultado esta sensação junto de quem ma provocava.
Esta noite ressuscitou... Ressuscitaram...
Um aperto na barriga, um nó na garganta, apoderaram-se de mim e não articulei uma palavra.
Vi o seu olhar carregado de ódio, de despeito. Da sua boca apenas saía um discurso vil, repleto de injúrias. Dirigia-se-me hostil, proferia calúnias e eu continuava sem articular uma palavra.
O pavor apossou-se de mim e nem sequer me permitiu pensar.
Fiquei-me apenas. Imóvel. Estática.Petrificada.
Abri a janela das recordações e revi os meus dias não vividos, os choros compulsivos, os temores...
Gritos mudos escapavam do meu peito e as lágrimas escorriam no interior da minha alma, manchando a rotina dos meus dias tranquilos.
Estava gélida.
Escapei-me solitária na escuridão e libertei o meu pranto na minha almofada banhada apenas pela minha sombra e, mais uma vez me vi envolvida na solidão que me acompanha.
Pedi que terminasse o sofrimento, mas somente choravam palavras de mágoa e uma dor que me alucinava.
Pedi que terminasse o sofrimento, mas somente choravam palavras de mágoa e uma dor que me alucinava.
Sinto cansaço, mas o sono teima em chegar. Encolho-me ainda mais no meu leito, tentando sentir o aconchego que desejava que viesse de outros braços que não os meus.
Fluem-me pensamentos abstractos assim que entro na sala do meu passado que mais uma vez me veio assombrar. Fecho os olhos tentando obter a paz que por vezes se desvia do trilho espinhoso que tento esmagar a cada pegada que vou deixando atrás de mim, e que me leva a parte incerta.
Sou perseguida por visões de um passado em que não amei e só queria ser feliz.
Será pecado querer ser feliz?
Porque é atroz o meu sofrimento?
Porque continuam insistentemente a querer ver rolar as lágrimas onde antes se passearam sorrisos de menina?
Lentamente avança a noite, dando lugar à madrugada.
As lágrimas que outrora percorreram a minha face começam a secar e sinto-me adormecer. A dor que me atormentava começa a dissipar-se, ouvindo agora ao longe o eco da questão que se levantou. Quando vai terminar?
Vou cedendo ao embalo que me acarinha e adormeço na esperança de um dia poder viver tranquila e enterrar de vez todos os pesadelos, colocá-los num túmulo bem fundo, para que eles não possam fugir jamais e não me voltem a assombrar as noites em que procuro sossego...
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